Com foco na equidade, encontro reúne lideranças para debater participação das mulheres no Cooperativismo
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O evento contou com palestra da jornalista e empresária Ana Paula Padrão, que trouxe reflexões sobre coragem, carreira e os desafios das mulheres nos espaços de poder.
O Sistema OCB/CE, por meio do Comitê de Mulheres Elas pelo Coop-CE e em parceria com a Unimed Fortaleza, realizou nesta segunda-feira (8) o I Encontro de Liderança Feminina no Cooperativismo do Ceará, no IMAX do Cinema UCI Kinoplex Iguatemi Bosque, em Fortaleza. O evento reuniu dirigentes, especialistas e representantes de diversos ramos cooperativistas para um dia de debates, palestras e painéis dedicados ao fortalecimento da presença das mulheres na governança do setor. A programação evidenciou a urgência de ampliar espaços de decisão, reforçando que diversidade e equidade são pilares para o futuro do cooperativismo.
A abertura ficou a cargo de José Aparecido, superintendente do Sistema OCB/CE, e de Selene Caracas, coordenadora do Comitê Elas pelo Coop-CE. Aparecido destacou que a ampliação da participação feminina não é apenas uma pauta de inclusão, mas uma necessidade estratégica. Segundo ele, o movimento cooperativista, no Brasil e no mundo, reconhece que incorporar mais mulheres nos espaços de decisão é fundamental para a sustentabilidade das organizações. “Há um cooperativismo antes e outro depois da chegada efetiva das lideranças femininas”, afirmou.
Selene apresentou um panorama do setor no estado, que reúne 240 mil cooperados, 144 cooperativas registradas e cerca de 8 mil empregos diretos. Embora as mulheres sejam maioria entre cooperados e colaboradoras, ainda representam apenas 24% das lideranças. Para ela, a mudança começa nas assembleias, onde as decisões são tomadas e a representatividade é construída. Também destacou o crescimento do Elas pelo Coop-CE, que passou de 12 para 36 integrantes de 19 cooperativas, reunindo presidentas, conselheiras, superintendentes, gerentes e diretoras executivas. O programa tem impulsionado mentorias, encontros estratégicos e formação por meio da plataforma CapacitaCoop, que oferece cursos gratuitos, como a Jornada de Formação de Lideranças Femininas.
A programação seguiu com a palestra da CEO da Parônima, Gisele Gomes, que abordou ética, sensibilidade, racionalidade e colaboração como fundamentos da liderança feminina. Com base em estudos internacionais, ela apontou que equipes diversas apresentam melhores indicadores ESG e ressaltou que diversidade vai além do gênero, envolvendo raça, idade, deficiência e orientação sexual. “Incluir mulheres é uma questão de justiça e redistribuição de poder, e não apenas de performance”, afirmou, convocando as participantes a ocuparem os espaços decisórios com legitimidade e protagonismo.
À tarde, um novo painel reuniu Marcos Aragão, presidente da Unimed Fortaleza, e Edice Barros, presidente da Coopanest Ceará. Aragão apresentou dados que confirmam o avanço feminino na Unimed Fortaleza, onde 75% da força de trabalho e 60% das gerências são compostas por mulheres, defendendo a necessidade de ampliar essa presença também nos cargos de maior poder decisório. Edice compartilhou sua trajetória no cooperativismo, destacando como qualificação, confiança e visão estratégica a conduziram do conselho fiscal à presidência de uma cooperativa que modernizou sua governança e expandiu seu faturamento. Os dois reforçaram que o modelo cooperativista, por sua essência democrática — onde cada pessoa tem direito a um voto —, é terreno fértil para fortalecer a representatividade feminina.
A jornalista e empresária Ana Paula Padrão fechou a programação de palestras com uma fala marcada por autenticidade e reflexão. Ao revisitar diferentes fases de sua carreira no jornalismo, no entretenimento e como fundadora da escola de negócios UNNA, ressaltou que coragem, autoconhecimento e disposição para enfrentar mudanças são decisivos para a evolução das mulheres em posições de liderança. Trouxe dados que ilustram a desigualdade nos espaços de poder — apenas 6% das cadeiras de comando nas grandes empresas brasileiras são ocupadas por mulheres — e destacou que o avanço depende da ação contínua das mulheres que decidem ocupar a “cadeira número um”. Ela também reforçou a importância das redes de apoio, do autocuidado e de ambientes que acolham a diversidade de experiências femininas.
“O lucro, quando pensado apenas para privilegiar o acionista majoritário, não é sustentável. Num modelo saudável, todo mundo precisa estar bem — porque, se alguém não está, o resultado inteiro fica comprometido. Por isso defendo um modelo mais vencedor, baseado em comunidade e colaboração. E é o que prego especialmente para as mulheres: quando nos organizamos em rede, conseguimos avançar com mais facilidade e ocupar mais espaços de poder. Quanto mais mulheres participando de tudo, melhor. É nisso que tenho dedicado meu trabalho.”, afirmou.
Finalizando os painéis, a discussão sobre como as mudanças impactam o futuro das organizações reuniu Flávio Ibiapina, Diretor Administrativo-Financeiro da Unimed Fortaleza; Luanna Façanha, Gerente de Gente, Gestão e Diversidade da Unimed Fortaleza; e Eglantine Feitosa Sisnando, Gerente Administrativa da Connect.Coop. A conversa, mediada por Iris Ribeiro, Gerente de Pessoas e Cultura da Sicredi Veredas, trouxe uma visão objetiva sobre como as transformações culturais moldam o futuro das organizações e fortalecem suas estratégias de desenvolvimento.
No encerramento do evento, Karine Sobral, vice-coordenadora do Elas pelo Coop-CE, ressaltou o movimento global HeForShe e a necessidade de envolver homens no processo de transformação. “Não foi por acaso que trouxemos homens para falar aqui hoje. Eles também precisam ajudar a abrir caminhos para nós”, reforçou.
O encontro contou, ainda, com apoio institucional de Sicredi, Cootraps, Uniodonto, Unidental, Cemerge e Coocirurge, fortalecendo a articulação de diferentes ramos em torno da equidade de gênero no cooperativismo.
Sobre o Elas pelo Coop
O Elas pelo Coop é um movimento nacional do Sistema OCB que atua para fortalecer o papel das mulheres no cooperativismo brasileiro, ampliando sua participação na gestão, na governança e nos espaços de decisão. O programa promove formações, encontros, articulação entre ramos e redes de troca de experiências. No Ceará, o comitê regional mobiliza cooperativas filiadas, incentiva a criação de novos grupos de mulheres e estimula estratégias de inovação e equidade dentro das cooperativas.